Nesta terça-feira, 24 de setembro de 2024, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um apelo contundente por reformas estruturais na Organização das Nações Unidas (ONU) durante a abertura da Assembleia Geral, em Nova York. Lula destacou a necessidade de uma nova governança global para enfrentar os desafios que se avolumam no planeta, argumentando que a ONU, com quase 80 anos, está defasada e precisa de mudanças profundas para lidar com os problemas contemporâneos.
“Não podemos esperar por outra tragédia mundial, como a Segunda Grande Guerra, para só então construir sobre os seus escombros uma nova governança global”, declarou o presidente brasileiro. Ele apontou que a ONU, criada em 1945, refletia a realidade de um mundo onde muitas nações, especialmente da África e América do Sul, ainda viviam sob o domínio colonial. Hoje, com 193 países-membros, Lula acredita que a organização precisa ser modernizada para incluir verdadeiramente as vozes de todos.
Lula tem defendido essa agenda reformista em foros internacionais, e o discurso desta terça-feira reforçou o compromisso do Brasil com a renovação da ONU. Segundo ele, as mudanças prioritárias incluem o fortalecimento do Conselho Econômico e Social (ECOSOC) como principal espaço para tratar de questões econômicas globais e redistribuição de recursos, além da ampliação do Conselho de Segurança, para incluir mais países no processo decisório sobre conflitos armados e segurança internacional.
“Estamos chegando ao final do primeiro quarto do século XXI com as Nações Unidas cada vez mais esvaziada e paralisada”, alertou Lula. Para ele, ajustes pontuais não serão suficientes, sendo necessário contemplar uma “ampla revisão” da Carta das Nações Unidas. Entre as críticas, o presidente destacou que a Carta, com apenas quatro emendas aprovadas desde 1973, não abrange desafios modernos, como mudanças climáticas e desenvolvimento sustentável.
Durante o discurso, o presidente brasileiro também mencionou o aumento no número de conflitos armados em 2023, o maior registrado desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Ele criticou os elevados investimentos em armamentos, que, segundo ele, deveriam ser destinados ao combate das desigualdades sociais. “A ONU deve ser o foro legítimo para que os países equacionem suas diferenças e busquem a paz e o desenvolvimento”, afirmou Lula, pedindo que a organização recupere sua centralidade nas discussões globais.
Outro ponto de destaque foi a defesa de Lula por maior equidade de gênero na liderança da ONU, pedindo que, pela primeira vez, uma mulher seja eleita para o cargo de Secretária-Geral da organização. O pedido foi amplamente aplaudido na Assembleia Geral.
Principais propostas de Lula para a reforma da ONU:
- Fortalecimento do Conselho Econômico e Social (ECOSOC): Transformá-lo no principal foro para tratar do desenvolvimento sustentável e da mudança climática, com poder de influenciar instituições financeiras globais.
- Revitalização da Assembleia Geral: Lula defendeu que a Assembleia tenha um papel mais ativo em questões de paz e segurança internacionais.
- Reforma do Conselho de Segurança: Ampliar sua composição, revisar os métodos de trabalho e reformar o direito de veto, para torná-lo mais representativo das realidades contemporâneas.
- Fortalecimento da Comissão de Consolidação da Paz: Dar mais poder a essa comissão para mediar e consolidar processos de paz ao redor do mundo.
Lula concluiu com uma mensagem de otimismo, afirmando que “a vontade da maioria pode persuadir os que se apegam às expressões cruas dos mecanismos do poder”, sugerindo que o movimento por uma ONU reformada pode vencer resistências históricas.
A fala de Lula reflete o compromisso do Brasil com uma diplomacia ativa e engajada em questões globais, buscando não apenas representar o país, mas também os interesses das nações emergentes e marginalizadas que, segundo o presidente, foram excluídas do processo decisório da ONU por décadas. A proposta de uma reforma abrangente chega em um momento crítico, em que a relevância e eficácia da ONU têm sido amplamente questionadas diante das crises globais recentes.
A postura de Lula na Assembleia Geral reforça sua liderança em questões de governança internacional e sinaliza uma possível articulação entre países emergentes para pressionar por mudanças substanciais na organização que tem sido um dos pilares da ordem mundial desde o século XX.
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