Há pessimismo nas trincheiras de Antonio Palocci e sua delação. Os advogados do escritório de Adriano Bretas, que negociam a possível colaboração premiada do ex-ministro petista – homem-chave dos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff –, não deixam transparecer nenhuma animação quando tratam do assunto. “Imagina uma carruagem pesada, na subida, o terreno molhado, os cavalos cansados… E nós lá atrás, empurrando”, comparou um deles, na última terça-feira de novembro, quando conversamos em Curitiba.
Dias antes, um integrante da força-tarefa da Lava Jato no Ministério Público Federal me contara, numa conversa informal, que o problema crucial da proposta de delação de Palocci era “a dificuldade dele em se incriminar”, além do natural embaraço que o fato de estar preso há mais de um ano impõe à produção de provas que corroborem o que o outrora grão-petista diz ter a entregar aos investigadores.
O advogado que atende o ex-ministro rebateu. “Essas são dificuldades superadas”, disse. “Fazer delação é como ir ao analista. De início, você não consegue falar nada, mas, com o tempo, começa a admitir o que fez. Palocci já trilhou esse caminho. E é um homem que ouve e respeita seus advogados”, afiançou o causídico, que acredita que parte considerável do obstáculo a ser vencido pelo cliente está a centenas de quilômetros de Curitiba: a sede da Procuradoria-Geral da República, em Brasília.
“Tudo mudou por lá. Tínhamos até o WhatsApp dos caras. Isso acabou”, relembra, falando dos tempos de Rodrigo Janot, que deixou o comando da PGR em setembro. “Agora, tem que mandar um e-mail para a secretária para marcar uma reunião com a nova turma”, exasperou-se, explicando os novos procedimentos instaurados pela mandatária Raquel Dodge. A nova procuradora-geral é certamente mais cautelosa que o antecessor no que toca às delações. Há algumas semanas, a revista Época relatava que, a interlocutores, Dodge já afirmou acreditar que Janot exagerou ao eleger as delações como as principais peças das investigações.
“Nos tempos do Janot, a PGR era um restaurante repleto de advogados propondo colaborações premiadas, com ‘garçons’ da PGR circulando de mesa em mesa, ouvindo os pedidos, cozinha a todo vapor. Agora, quase todos os assentos estão vazios, mas é difícil chamar a atenção de um atendente”, comparou um defensor que já negociou delações premiadas para pesos pesados da Lava Jato.
Como parte de quem está na mira da delação de Palocci são políticos ou agentes públicos com foro privilegiado, não há como a colaboração driblar a PGR. Em Curitiba, ainda que as conversas entre os defensores do ex-ministro e os procuradores da Lava Jato nunca tenham de fato cessado, o óbice parece ser outro. “Aqui a investigação está já na maturidade. A tendência é ir diminuindo, até porque o que não se refere à Petrobras foi retirado daqui”, disse-me, há algum tempo, o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, um dos cabeças da operação. Com isso, naturalmente, a baliza colocada pelos investigadores quanto ao que se exige de um candidato a colaborador está elevada. É a regra de mercado, como já definiu Santos Lima. “Se você precisa muito de alguma coisa, vai ceder mais. É uma questão de lógica de negociação.”