Em todos os setores da vida nacional, começam a se levantar opiniões contrárias à continuidade do governo Bolsonaro. Um dos setores mais sensíveis onde já se fala abertamente sobre a queda do presidente é o econômico-financeiro. “Em menos de três meses de governo, às vezes parece que estamos falando de um mandato que está terminando”, diz o Sérgio Vale, mestre em economia pela USP e pela Universidade de Wisconsin, economista-chefe da consultoria MB Associados.
“A impressão de ‘pato manco’ começa a se espalhar pelo governo Bolsonaro rapidamente e a primeira vítima poderá ser a reforma da Previdência’, diz em coluna na revista Exame .
O colunista relaciona os problemas que dificultam a reforma considerada prioritária para o governo: a questão militar, os atritos entre os poderes Executivo e Legislativo, as divergências entre o presidente da Câmara e o ministro da Justiça e a instabilidade provocada pela prisão do ex-presidente Temer.
“[…] o banho de água fria se instalou quando se viu que as perdas relativas dos militares seriam muito menores do que dos servidores públicos civis e do setor privado”, argumenta.
“Na sequência, os atritos entre o Legislativo e o Executivo aumentaram, com a clareza cada vez maior de que não há articulação política para a reforma da previdência. A declaração de Bolsonaro de que preferia não aprovar essa reforma, mas que precisa ser feita não ajuda na frente de batalha. O Congresso não parece querer ficar com o ônus de uma reforma que o presidente insiste em não abraçar como deveria”.
“As divergências entre Rodrigo Maia e Sergio Moro e a prisão do ex-presidente Temer dão mais pimenta para um molho que já estava intragável. Resta saber agora se há chance dessa reforma passar”.
“Os mercados já começaram a incorporar nos preços o risco de não aprovação da reforma. Depois de bater nos 100 mil pontos, o destino da bolsa por algumas semanas deverá ser novas baixas, da mesma forma que o câmbio caminha célere para R$/US$ 4,0. Mas isso talvez não seja suficiente para acordar o governo. Os mercados poderão ter que reagir mais negativamente para pressioná-lo a mudar a rota e se empenhar mais pela reforma. Parece tom de ameaça dos mercados quando se fala isso, mas é apenas a incorporação do que significará à frente a não aprovação da mesma. O risco que pode ficar crescente é que na instabilidade dos mercados a desarticulação política aumente. Há chance de abandono precoce do barco de um governo que insiste em não negociar e cada vez mais com menos liderança”.