Um dia no futuro vamos ter informações detalhadas da operação Lava Jato, do desmonte praticado contra as empreiteiras e a Petrobras, o impeachment de Dilma Rousseff e a condenação e prisão de Lula sem nenhuma prova material. Vamos saber também quem esteve por trás da campanha de Bolsonaro, as ligações do clã com as milícias no Rio de Janeiro e a indústria de fake news que tomou conta dos celulares de gente simples da igreja evangélica.
Talvez boa parte dessa história seja liberada daqui a 40 anos quando serão abertos os sigilos dos governos de Obama e Trump. Talvez no dia em que algum promotor do grupo do Deltan Dallagnol, contrariado por ter sido deixado de lado de detalhes da indústria de delações premiadas e dos 2,5 bilhões de reais da Petrobras que iriam alimentar uma ONG privada ligada aos próprios promotores de Curitiba. Parafraseando Chico Buarque, este dia há de vir antes do que eles pensem. Na mesma semana em que esteve nos Estados Unidos visitando inclusive a CIA, maior centro de Espionagem do Mundo, o painho da Lava Jato e atual ministro da Justiça viu seus subalternos abrirem mais um inquérito sem provas contra Lula e um de seus filhos.
Hoje seu colega de Lava Jato, juiz Marcelo Bretas, prende dois ex-figurões da República, o ex-presidente golpista, Michel Temer, e seu ex-ministro Moreira Franco, que é nada menos que o sogro de Rodrigo Maia, que está em confronto com Moro desde o início da semana. Sei que a dupla que foi presa tem muito o que explicar sobre as acusações que pesam contra ela. Mas por que prender sem ao menos tomar o depoimento dos suspeitos? Como prender um ex-presidente sem julgamento e sem sentença? Até quando os poderes constituídos aceitarão prisões arbitrárias e sensacionalistas como as desta tarde, quando mais uma vez a imprensa foi informada das ações antes dos suspeitos?
Para mim é o velho esquema midiático que vinha funcionando bem desde 2013 e que serviu para fortalecer a Lava Jato! Aliás, a ex-presidenta Dilma que se cuide, pois pode ser a próxima na mira de Moro. O processo dela está em Brasília nas mãos do juiz Vallisney de Souza Oliveira, que dizem ser tão vaidoso e pavão quanto o Marcelo Bretas. Delações premiadas sem provas contra ela a Lava Jato já tem em mãos. É no mínimo constrangedor ver Moro em um governo rodeado de ministros acusados de fazer Caixa Dois, levar dinheiro publico de campanha por meio de laranjas e de conviver tranquilamente com os filhos do presidente que admiram e até condecoraram milicianos.
Contra o senador Flávio Bolsonaro pesa desvios de parte dos salários de seus assessores parlamentares através de um esquema montado pelo seu ex-motorista Fabrício Queiroz, que até agora não compareceu pessoalmente para dar explicações ao Ministério Público. Afinal, o que está por trás do combate seletivo à corrupção? Bolsonaro que se cuide, daqui a pouco ele poderá ser o próximo presidente na lista de Moro. Indícios de mal feitos não faltam. O problema que se coloca agora é que o país está parado, o desemprego aumenta e a economia não avança. A reforma da previdência subiu no telhado. O prestígio dos três poderes está ladeira abaixo. Não sou mago, mas imagino que nossa democracia corre sérios riscos neste momento.