O jornalista e correspondente internacional Pepe Escobar disse neste sábado (21) à TV 247 que o racismo no Brasil é muito mais presente e intenso do que em outros países do mundo, como França e Estados Unidos, por exemplo.
Para ele, as elites brasileiras são mais retrógradas. Pepe ainda chamou o Brasil de “senzala eterna”. “Se a gente for comparar as classes dominantes do Brasil e Estados Unidos, isso seria uma tese de duas mil páginas, você comparar as elites escravocratas das 13 colônias americanas com as nossas das capitanias hereditárias. Mas aqui ainda é muito mais retrógrado, não há limites para o descaso, a arrogância, a ignorância e o preconceito inerente a essa formação psicológica das elites tradicionais brasileiras e das novas elites também. É a mini Casa Grande e o senzalão”.
O jornalista contou que ao ler as notícias de jornais brasileiros sobre o assassinato de Beto Freitas no Carrefour, lembrou de quando tentou emplacar uma matéria sobre um show de Tim Maia na capa da Folha de S. Paulo. Por Tim Maia ser negro, Pepe relata que precisou brigar “até o 9º andar da diretoria” para conseguir o destaque para o artista. “Logo que eu entrei na Folha, eu fui a um baile funk na periferia de São Paulo. A estrela era Tim Maia. No final a gente fez uma longa conversa, foi muito legal, eu acompanhava ele desde os anos 70, e isso era um baile funk na periferia de São Paulo em 82. Eu fiz uma matéria enorme sobre música negra, a figura do Tim Maia e uma longa coversa com ele. Vocês acreditam que eu tive que brigar com a Folha de S. Paulo para colocar essa matéria na capa? Saiu na capa. Quando saiu, o pessoal ligado à organização do baile funk me falou: ‘é a primeira vez que sai uma matéria de página inteira sobre cultura negra em um grande jornal do Brasil’. Isso me deu uma dimensão de como a mídia dita de vanguarda enxergava a cultura negra. Eu lembrei dessa história hoje justamente lendo o que aconteceu”.