A destruição da imagem do ainda presidente da República – se é que ele ainda tem alguma – continuou na edição de sábado do Jornal Nacional. Não por culpa da Globo (dessa vez), mas do personagem.
Os repórteres flagraram Temer entrando no escritório do advogado Antônio Claudio Mariz de Oliveira para tratar de sua defesa. O texto lido pela apresentadora Monalisa Perrone sublinhava que ele está sendo “acusado de corrupção passiva”. É assim que a Globo o chama desde que a PGR encaminhou a acusação ao STF.
Mas, aqui entre nós, essa ofensiva jurídica do presidente moribundo é uma cortina de fumaça das mais vagabundas. Todos sabem, até mesmo todos os dez advogados que, segundo comentam, estão a serviço de Temer – e ninguém sabe quem paga seus honorários – que do ponto de vista jurídico ele não tem defesa. As provas são robustas como gostam de dizer os juristas.
Na gravação, ele indicou Rocha Loures, a quem definiu como pessoa de sua estrita confiança para ser o interlocutor de Joesley para assuntos de interesse da JBS no governo, em lugar de Geddel. É de conhecimento público o teor dos serviços que Geddel prestava a Temer. Não por acaso ele pode ser preso a qualquer momento e até já entregou seu passaporte à Polícia Federal.
Conclui-se, portanto, que o presidente da República abriu as portas do Jaburu e do governo a uma pessoa que dois meses depois chamou de “bandido notório”. Como o conhecia há sete anos é de se supor que não descobriu somente agora suas notórias delinquências.
A principal alegação da defesa – a gravação é ilícita porque está mal gravada e tem ruídos – é absolutamente despropositada porque o próprio Temer admitiu a sua legitimidade ao afirmar que, no encontro com Joesley nos porões do Jaburu tinha indicado uma pessoa de estrita confiança “para ouvir suas lamúrias”. Não consta, porém, que Rocha Loures seja psicanalista, que é o profissional dessa área.
A peça que fecha com chave de ouro a acusação é a filmagem de Rocha Loures fugindo com a mala de 500 mil reais, uma das cenas mais antológicas da televisão brasileira. Temer nunca sequer repreendeu seu amigo de estrita confiança por essa cena escandalosa. Não viu nenhuma anormalidade nem imoralidade na cena da mala. Por aí se vê quais são os princípios de ética e moral que costuma adotar.
Não há defesa jurídica, portanto: há uma fita gravada num encontro secreto, há a confirmação do encontro e do teor da gravação pelo próprio acusado e há uma mala na mão de seu homem de confiança.
Indícios tão veementes não deixam dúvida de que o caso precisa ser investigado. Só que autorizar ou não a investigação é prerrogativa dos deputados e não do Poder Judiciário. Por isso não é um processo jurídico e sim político, como foi o impeachment de araque. A única utilidade da peça jurídica é abastecer de argumentos os deputados que vão decidir a sorte de Temer naquela que vai ser, talvez, a votação das suas vidas.
Claro que há deputados capazes de tudo, mas vai soar no mínimo bizarro e absurdo ver aqueles que no passado defenderam em rede nacional o combate à corrupção agora se alinharem em defesa de quem é acusado de corrupção.
Ou seja: vão ser os responsáveis por impedir que se investigue o caso de corrupção com indícios mais veementes da história brasileira.
Depois, tem outra coisa. Como a opinião pública já conhece de cor e salteado os métodos empregados pelo governo Temer, quem votar com ele vai cair na boca do povo. Vendeu o voto, vão dizer. E eles não vão poder desmentir.
São esses alguns dos motivos que vão elevar o preço dos votos à estratosfera.
Mas tem o mais importante.
No ano passado, os deputados enrolados em bandeiras verde-amarelas iam saltitantes ao microfone em rede nacional porque a Globo estava ao lado deles. Agora, não. A Globo quer ver Temer pelas costas.
Os deputados que se movem por inconfessáveis interesses vão ter que escolher: ou ficam com Temer e o salvam, mas se estrepam nas próximas eleições ou ficam com a Globo e se salvam, mas acabam com Temer.
A Globo já condenou Temer. Resta saber, agora, se vai também condenar seus deputados de estimação.