O publicitário Marcos Valério ganhou os holofotes da mídia ao denunciar o chamado “mensalão petista”, o que gerou grave crise política logo no primeiro mandato do ex-presidente Lula e levou para a cadeia várias líderes petistas – entre eles, o ex-ministro José Dirceu. Já naquela ocasião, ele deixou implícito que o esquema de desvio de verbas para as campanhas eleitorais teve início em Minas Gerais, durante a gestão do cambaleante Aécio Neves. Mas o “mensalão tucano”, que a imprensa venal apelidou marotamente de “mensalão mineiro”, sempre foi abafado. Aos barões da mídia interessava satanizar o PT e blindar os seus serviçais do PSDB. Agora, porém, Marcos Valério parece estar disposto a revelar toda a sujeira do ninho tucano.
Segundo reportagem da Folha deste sábado (22), o publicitário acaba de firmar um novo acordo de delação premiada com a Polícia Federal. Ela dá detalhes de como funcionou o “mensalão mineiro” e atingiria em cheio tucanos de alta plumagem, como Aécio Neves, FHC e José Serra. “A colaboração com a PF incorpora 60 anexos (relatos de episódios de supostas irregularidades) que haviam sido rejeitados pela Procuradoria-Geral da República e pelo Ministério Público de Minas Gerais. O novo acordo ainda ampliaria a lista de implicados. A delação, assinada neste mês, foi enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF) e depende de homologação. Não está claro quais episódios serão considerados e investigados pela PF”.
Ainda de acordo com a matéria, assinada pela jornalista Carolina Linhares, o publicitário “escreveu a delação à mão na prisão e teve os anexos posteriormente digitados… Condenado a mais de 37 anos de prisão pelo mensalão, Valério também é réu acusado de operar desvios por meio de suas agências de publicidade, a SMP&B e a DNA Propaganda, para financiar a fracassada campanha de reeleição do então governador mineiro, Eduardo Azeredo (PSDB), em 1998. Uma planilha assinada pelo publicitário aponta que a campanha recebeu cerca de R$ 10 milhões (R$ 33 milhões hoje) em desvios de estatais como a Cemig, Copasa, Furnas, Comig, Eletrobras, Petrobras, Correios, Banco do Brasil e Banco do Estado de Minas Gerais”. “De acordo com o controle de Marcos Valério, foram arrecadados e distribuídos ao menos R$ 104 milhões (R$ 346 milhões corrigidos) na campanha. A lista de recebedores inclui políticos e membros do Judiciário. Segundo a narrativa do publicitário, o esquema de empréstimos fraudulentos do Banco Rural e um repasse de R$ 1 milhão da Usiminas via caixa dois beneficiaram também as campanhas de FHC (1998), Aécio (2002) e Serra (2002)”. A Folha faz questão de registrar, por razões óbvias, que o publicitário também citou Lula, José Dirceu e outros dirigentes petistas, mas o foco desta nova delação seriam os tucanos.
“Os anexos afirmam que Serra atuou, após perder a eleição presidencial de 2002, para resolver pendências do Banco Rural e, em troca, teve R$ 1 milhão de dívidas de campanha pagos pelo banco por meio da SMP&B… Durante o governo FHC, afirma, a DNA propaganda repassou a Aécio Neves 2% do faturamento do seu contrato com o Banco do Brasil, que havia sido arranjado pelo senador com o aval do ex-presidente… Valério afirmou ainda que Aécio encontrou-se, em Belo Horizonte, com a diretoria do Banco Rural e com os então deputados Eduardo Paes (PMDB-RJ) e Carlos Sampaio (PSDB-SP), da CPI dos Correios, de 2005, para blindar investigações sobre a campanha de Azeredo”. Como se observa pela matéria da Folha, a delação é inflamável.
A questão é saber se a Polícia Federal e o Ministério Público – sempre tão generosos com o tucanato – vão levar a sério as novas revelações do publicitário. Como já antecipa a própria Folha tucana, “não está claro quais episódios serão considerados e investigados pela PF”. Como lembra ainda o jornal, “as tratativas para delação começaram ainda em meados no ano passado. Um ofício de junho do Ministério Público de MG pede que os relatos sejam enviados à PGR por tratarem de políticos com foro privilegiado no STF. A Procuradoria chegou a enviar representantes a Minas, mas não levou o acerto adiante. Nova tentativa com a 17ª Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Público de BH foi recusada em março deste ano”.