O ex-vice-presidente da Caixa Econômica Federal Fábio Cleto, delator na Lava Jato, apresentou provas de que despesas pessoais dele e da família foram pagas pelo doleiro Lucio Funaro, preso em 1º de julho na Operação Sépsis e apontado como operador do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha.
Cleto é o delator que, em depoimento ao Ministério Público Federal (MPF), afirmou que Cunha ficava com 80% da propina paga em suposto esquema para a liberação de recursos do Fundo de Investimentos do FGTS (FI-FGTS), administrado pela Caixa. Em nota na ocasião, o ex-presidente da Câmara desmentiu a acusação “com veemência” e disse que não recebeu vantagens indevidas.
Fábio Cleto entregou aos investigadores cerca de 300 contas pagas por Funaro. A TV Globo teve acesso aos boletos de pagamentos que, conforme a denúncia da Procuradoria-Geral da República, comprovam a contabilidade do esquema primeiramente administrada pelo operador e, posteriormente, por Cunha. Para os investigadores, os boletos são indícios da lavagem de dinheiro descoberta pela Lava Jato.
O advogado do ex-vice-presidente da Caixa, Fábio Cleto, não quis se pronunciar. A TV Globo não conseguiu contat com o advogado de Lúcio Funaro. Procurada, a assessoria de Eduardo Cunha não tinha respondido até a última atualização desta reportagem.
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, explicou que Cleto, assim que soube que ocuparia uma das vice-presidências da Caixa, em 2011, encerrou uma conta na Suíça e transferiu cerca de US$ 820 mil para outra conta, também na Suíça, em nome de uma empresa offshore de Lucio Funaro, entre março e abril de 2011.
E que Funaro iria pagá-lo de volta abatendo o dinheiro de despesas pessoais para Cleto e sua família.
Dentre os documentos entregues pelo delator, há boletos dos pagamentos, feitos entre 2011 e 2012 de contas de gás, cartões de crédito, celular, escola e condomínio.
De acordo com os papeis, em maio de 2011, por exemplo, a empresa de Funaro, Cingular Fomento Mercantil, pagou uma despesa de Cleto de R$ 2.341,00. Em julho, outra empresa do operador, a Gallway S/A Securitizadora de Créditos Financeiros, pagou R$ 2.052,00.
Em setembro, a empresa Ropyster Serviços S/A , também de Funaro, bancou conta no valor de R$ 309,55.
Segundo a Procuradoria Geral da República, “nessa sistemática, foram lavados US$ 385.849,05” .
Em 2012, Funaro e Cleto se desentenderam e, segundo o Ministério Público, o doleiro começou a deixar de pagar as contas da família de Cleto ou a atrasar os pagamentos, descumprindo o acerto entre eles.
Diante disso, Fabio Cleto teria dito a Eduardo Cunha que queria sair da Vice-presidência da Caixa. O deputado, então, teria pedidio a Cleto para permanecer e, segundo a investigação, assumiu a dívida que Funaro não pagou, em acordo feito janeiro e fevereiro de 2012.
Na semana passada, o Jornal “O Globo” afirmou que Cunha bancou despesas de Cleto com dinheiro de propina, que seria resultante de corrupção nos projetos bancados por recursos do Fundo de Investimento do FGTS (FI-FGTS) junto à Caixa, área que ficava sob coordenação da vice-presidência ocupada por Cleto.
As provas dos pagamentos, às quais a TV Globo teve acesso, fazem parte da denúncia que o procurador Rodrigo Janot apresentou contra os dois e também contra Alexandre Margotto (sócio de Funaro) e o ex-ministro Henrique Eduardo Alves.
Alves deixou o Ministério do Turismo no mês passado por causa de denúncias contra ele na Operação Lava Jato. Segundo a PGR, o ex-ministro recebeu propina de R$ 1,6 milhão em contas na Suíça abastecidas pela empreiteira Carioca Engenharia, a pedido de Eduardo Cunha. Alves classificou as denúncias como ‘levianas’ e ‘irresponsáveis’.