A expulsão recíproca de diplomatas entre Venezuela e Brasil deixou estremecida a relação comercial entre os países, o que, de acordo com analistas, pode gerar mais dificuldades para exportadores brasileiros receberem pelos produtos já enviados e serviços já prestados. De janeiro a novembro deste ano as exportações brasileiras ao país vizinho diminuíram 60% e as importações, 9%.
O ex-embaixador Rubens Barbosa, diretor-presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice), avalia que, atualmente, “o Brasil e a Venezuela, na prática, estão sem relações”. Entrevista foram publicadas no Globo.
“Os dois embaixadores estão fora e não há comunicação direta. A atitude do governo brasileiro foi correta, em cima dos fatos, de a Venezuela caminhar para se tornar um regime autoritário, uma ditadura. A importância econômica hoje não é mais pelo fluxo de comércio, que caiu muito, mas é que a Venezuela deixou de pagar empresas brasileiras, e elas têm que receber pelo que venderam, pelo serviço prestado. E para isso tem que haver contato com o governo venezuelano para resolver”, disse.
Segundo o professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP) Guilherme Casarões, a Venezuela é hoje uma preocupação mais do ponto de vista humanitário e político do que econômico. O estudioso afirma que, em relação às dividas com empresas brasileiras, não há nem como aplicar sanções para tentar resolver a questão.
“Quando a Venezuela foi colocada de forma atabalhoada no Mercosul, em 2012, se destacava a importância econômica. Nesses cinco anos, porém, essa dimensão foi sendo deixada de lado por causa da forte crise interna. A Venezuela acaba se transformando em um fardo econômico, muitos empresários brasileiros levaram calote e o Brasil não tem meios pra tentar impor a sua vontade empresarial. Não tem como aplicar sanções, por exemplo, porque isso agravaria o quadro humanitário. Enfim, a preocupação hoje acaba sendo mais de natureza humanitária e política do que econômica”, acrescenta.