Para o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o presidente Jair Bolsonaro estimula o desrespeito à hierarquia militar ao participar de manifestação, em frente ao quartel-general do Exército, neste domingo (19), na capital federal. “Em vez de ordem e progresso, temos desordem e regresso”, afirmou, em alusão ao lema da bandeira nacional.
Segundo Belluzzo, o presidente pretende manter o “controle absoluto” do Estado brasileiro, para subjugá-lo aos interesses particulares da sua família. “É uma desordem total. Tem muito a ver com o seu espírito destruidor. Ele não está aí para construir nada. Está para destruir, assim como fazem, sem saber, os seus adeptos”, disse a Glauco Faria e Marilu Cabañas, para o Jornal Brasil Atual, nesta segunda-feira (20).
Seus apoiadores que, assim como Bolsonaro, defendem a flexibilização das medidas de isolamento social necessárias no combate à disseminação da pandemia do coronavírus, são “narcisistas ressentidos”, segundo o economista.
“Todos eles, sejam pobres, ricos ou remediados, achavam que iam dar certo, e não deram”, acrescenta. “Esse que é o substrato social desse movimento. Como a sociedade vive do sucesso e da conquista individual, a derrota é irreparável. E produz essa reação sórdida. Querem que os mais desprotegidos morram. Não tem nenhuma piedade. E para isso arriscam até as próprias vidas.”
Nova economia
Belluzzo também afirmou que será preciso repensar a economia para o período pós-pandemia. Não é mais possível que o sistema financeiro haja apenas baseado na sua própria reprodução, e deve passar a servir aos interesses da sociedade. Ele também apontou que fenômenos como a alta informalidade e da “uberização“, que são fenômenos mundiais, também precisarão ser revistos.
O professor da Unicamp criticou o ministro da Economia, Paulo Guedes. “A economia estava indo muito bem só na cabeça dele. Não ia nada bem, porque já estava submetida às normas e prescrições dessa gente”, afirmou, fazendo menção ao receituário neoliberal que prega a redução do papel do Estado.
Assim como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o economista defendeu a emissão de “dinheiro novo” para combater os efeitos da pandemia. Segundo ele, os bancos deixam de emprestar porque temem a capacidade de endividamento das empresas. Estas, por sua vez, desempregam trabalhadores. Em cenário de incertezas, apenas o Estado é capaz de agir para reconstruir as relações econômicas.