“Ainda que procure, ao elencar detalhes do que chama ‘provas’, ser rigoroso, estamos diante de um caso clássico de gato escondido com o rabo de fora”, diz o jornalista Reinaldo Azevedo em seu blog no Uol sobre a carta do ex-presidente da OAS Léo Pinheiro negando que sua delação premiada tenha sido fabricada para incriminar o ex-presidente Lula.
“Você vê aquela cauda ali, em movimentos algo lentos, mas nervosos, e logo conclui: ‘Na ponta dessa cauda, há um gato’. Miguilim, o de casa, faz muito isso com o objetivo de dar botes benignos, sem ferir, nas pernas dos passantes. Em seguida, sai correndo, aos pulos meios desengonçados, esperando ser perseguido só para se esconder de novo e repetir a operação. Gatos domésticos têm lá suas brincadeiras. Empreiteiros não brincam em serviço”, escreve o colunista.
Segundo o jornalista, “a carta que Léo Pinheiro envia à Folha tem um elemento inescapável que a torna inútil até como peça de proselitismo”. “Ele aguarda ainda que a PGR envie a sua delação para homologação. Venham cá: ele teria como afirmar algo diferente disso? Se dissesse que fez a delação sob pressão e que alterou versões no curso das investigações, o que aconteceria? A sua delação iria para o lixo. Como está, pode ser homologada pela máquina automática de homologar delações que Edson Fachin deve ter escondida em seu gabinete”, disse.
“Há outros elementos que chamam a atenção. Um dos que mais se destacam, além da confissão de que está decidido a ser uma pessoa boa, é a defesa que faz do Ministério Público Federal e da Polícia Federal. A escrita será certamente usada como material de propaganda para enfrentar a onda de descrédito que colhe a Lava Jato dentro e fora do país. Parece piada, mas é assim: apela-se àquele que deu o testemunho que sustentou a condenação de Lula — se falasse como delator, teria de apresentar evidências da conta geral de propina e da suposta ordem dada pelo petista para destruir provas — para dar um segundo testemunho que a justifique”.