Por Sergio Tamer
Professor e advogado, é presidente do Centro de Estudos Constitucionais e de Gestão Pública-CECGP
A economia sempre exerceu um papel preponderante na estabilização dos sistemas políticos, sejam de esquerda ou de direita. E o seu desarranjo leva inevitavelmente a sérias turbulências, como já ocorreu no passado e com frequência se verifica atualmente. Foi o que ocorreu com a outrora superpoderosa União Soviética, que se esfacelou por completo; assim como a roda da economia tupiniquim atropelou a petista Dilma Roussef, cujo governo conseguiu a proeza de gerar inflação com estagnação econômica.
Não foi por outro motivo que a frase “É a economia, estúpido” (“It’s the economy, stupid”) foi popularizada por James Carville, estrategista da campanha presidencial de Bill Clinton em 1992.Carville escreveu essa frase em um quadro branco no escritório da campanha para lembrar a equipe de focar nas questões econômicas, que eram a principal preocupação dos eleitores na época. A estratégia ajudou Clinton a derrotar o então presidente George H.W. Bush, cuja popularidade havia caído devido a uma recessão econômica. Desde então, a expressão se tornou um ditado político usado para enfatizar a importância da economia em eleições e decisões governamentais.
Não tem sido outra a razão para a queda de popularidade do presidente Lula, registrada este mês por quase todos os institutos de pesquisa. Com a subida do dólar, quase toda a economia entrou numa forte espiral de elevação de preços, tal é a sua interconexão com outros setores econômicos, estes mais diretamente afetados pela moeda americana. Como é sabido, o sistema econômico não possui departamentos estanques e qualquer ação mal pensada ou atabalhoada pode causar um efeito adverso imprevisível.
No caso brasileiro, há alguns fatores que até os mais leigos em macroeconomia são capazes de vislumbrar. É interessante, também, observar, como ocorre uma certa combinação entre fatores internos e externos que estão, no momento, a afetar fortemente a economia brasileira. Assim, dentre os fatores internos, podemos elencar (1) a adoção de uma política fiscal expansionista, mediante a implementação de medidas que aumentaram os gastos públicos. Essa expansão fiscal gerou preocupações sobre a sustentabilidade das contas públicas, levando a um aumento do déficit fiscal, que atingiu 9,52% do PIB em outubro de 2024. Como consequência (2), ocorreu uma perda de confiança dos investidores com a percepção de que havia uma falta de compromisso com a responsabilidade fiscal. Essa desconfiança levou à saída de capitais do país, pressionando o real e contribuindo para a desvalorização da moeda.
Misturou-se a esse cenário local os chamados “fatores externos”, dentre os quais citamos a política monetária dos Estados Unidos, com aumentos nas taxas de juros pelo Federal Reserve. Esse fato tornou os investimentos em dólares mais atraentes, fortalecendo a moeda americana em relação a outras, incluindo o real. Também ocorre uma dose ponderável de incertezas no comércio internacional, em face das políticas comerciais mais protecionistas por parte dos EUA, especialmente as que estão sendo adotada por Donald Trump. Houve, naturalmente, um aumento nas preocupações quanto ao impacto no comércio global. Essas incertezas afetaram negativamente as economias emergentes, como a do Brasil, contribuindo para a desvalorização de suas moedas.
Em resposta a este cenário desfavorável, o governo brasileiro anunciou medidas de austeridade, incluindo cortes de gastos no valor de R$ 70 bilhões, na tentativa de conter o déficit fiscal e restaurar a confiança dos investidores. No entanto, a eficácia dessas medidas ainda está sendo avaliada, e a recuperação da moeda brasileira pode depender de uma combinação de políticas internas mais rigorosas e de um ambiente econômico global mais favorável.
O certo é que não se pode ficar vociferando contra especuladores e não especuladores, contra o preço elevado dos ovos e dos combustíveis, por exemplo, pois, isso é o mesmo que lutar contra os moinhos de vento. E já não há quem se iluda com isso. As causas estão mais embaixo, na base, onde a política econômica deve acertar o passo.
Na história, o protagonista, Dom Quixote, acredita ser um cavaleiro destinado a grandes feitos. Em um de seus delírios, ele confunde moinhos de vento com gigantes e parte para atacá-los, sendo derrubado no processo. Seu fiel escudeiro, Sancho Pança, tenta alertá-lo, mas Quixote insiste que os moinhos foram transformados por feitiçaria.
Atitudes quixotescas, como as que o governo vem adotando, definitivamente, não movem moinhos…
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