O golpe montou um cerco em torno da esquerda e do movimento popular. O cerco do preconceito monstruosamente forjado pela velha mídia, o cerco institucional pela judicialização da política, o cerco político pela ofensiva antipopular da maioria direitista no Congresso – montaram um dique de contenção contra os interesses populares, que precisa ser desmontado.
Lula fez algo similar com Moro no depoimento do dia 10, fazendo com que o feitiço virasse contra o feiticeiro. As perguntas de Lula foram sumamente incômodas para Moro. Lula retomou a iniciativa, desmontou as acusações contra ele, deixou Moro sem ação, sem nem sequer o poder de interromper o Lula.
Antes de tudo, portanto, como fez Lula com Moro, responder a tudo, esclarece a tudo, com exaustão, porque a razão que temos é o nosso argumento mais forte. O convencimento, a persuasão, a consciência dos problemas e das soluções é o instrumento decisivo para darmos volta à situação politica do pais.
O movimento popular está na defensiva desde a ofensiva que levou ao golpe. O governo passou a ditar a agenda, a tomar iniciativas, valendo-se da sua enorme maioria parlamentar e do poder da velha mídia, para deslocar a pauta para seus projetos de desmonte de tudo o que foi construído desde 2003. Mesmo isolado e desgastado, o governo tem a iniciativa, porque pode contar com o beneplácito da mídia e com maioria no Congresso. Enquanto contar com isso, pode sobreviver e prestar serviços à direita e ao capital financeiro.
Precisamos sair do cerco e passar a cercar o governo. As mobilizações convocadas para Brasília podem ser o momento de virada da situação estratégica da defensiva para a de ofensiva, pelo menos para promover um empate estratégico com o governo. Atacar no cenário decisivo e simbólico. A reforma da Previdência tornou-se o embate de virada. Valer-nos da vitória que temos na opinião publica, com dados arrasadores contra a iniciativa do governo – e a própria declaração do MT de que a aprovação da reforma da Previdência não é decisiva, ao contrario do afirmou Meirelles todos os dias – para levar o governo à sua primeira grande derrota politica, é o caminho. Uma derrota que tem se configurado não apenas nas concessões que o governo tem feito, mas principalmente nos adiamentos que tem promovido, forma típica de recuo desse governo fraco e covarde.
Temos que cortar a capacidade de ação do governo, que residiu na certeza do apoio da velha mídia e da maioria no Congresso. Que ele tenha cada vez menos certeza nesses dois instrumentos de apoio, principalmente em que pode aprovar seus projetos, mesmo quando passou a ter reprovado na opinião pública. Precisamos amputar a capacidade de iniciativa do governo, reduzi-lo à impotência, cercado pelo movimento popular, condenado pela opinião publica, contando cada vez com menos apoio parlamentar e politico, criticado cada vez mais pela velha mídia.
Estamos, depois da greve geral e das manifestações de Curitiba, em um momento de virada na correlação de forcas entre a oposição e o governo, entre as forcas democráticas e as forcas golpistas. Precisamos consubstanciar isso em iniciativas politicas nossas, diante das quais o governo e a mídia tenham que se pronunciar, recuperando a iniciativa por parte do campo popular.
A reivindicação das diretas já é um tema, mas podemos faze-la acompanhar da criação de um consenso da necessidade de convocação de uma Assembleia Constituinte, para reformar o sistema politico. Podemos apresentar propostas no Congresso, lutar para colocar em pauta esse tema essencial, que nos faz recuperar iniciativa na grande agenda nacional, provocar a que os outros tenham que e pronunciar sobre ela.
Podemos também manter a iniciativa no plano das mobilizações de massa, nas quais a defesa do Lula – como se viu em Curitiba – é uma reivindicação que unifica a todos os movimentos populares, porque se identifica com a restauração da democracia. O lançamento da pr-candidatura do Lula no Congresso Nacional do PT, pode ser o marco para grandes atividades de discussão e proposição das plataformas que deve ter um novo governo de esquerda no Brasil.
Precisamos repor a centralidade da questão social – da desigualdade, da pobreza, da exclusão social –, condição das nossas vitorias eleitorais, que se perdendo, conforme a direita foi impondo a centralidade da questão da corrupção no Brasil. Assim como precisamos recuperar a confiança na potencialidade do Brasil – que o Lula tanto realça -, que a direita foi debilitando, desmontando o modelo de desenvolvimento econômico com distribuição de renda, recuperar o prestigio do Estado, como prestador de serviços à população, mas também como comando da retomada do projeto estratégico do Brasil como potencia democrática, econômica e social.
O Brasil vai decidir daqui até o fim de 2018, no espaço curto de 18 meses – 18! – o seu futuro, projetado em toda a primeira metade do século. Ou a direita ter força para dar outro golpe e se consolidar no poder ou as forças democráticas e populares conseguem retomas o governo e realizar as profundas transformações que o pais requer e desenhar um Brasil democrático, solidário, soberano, com o que aprendemos a sonhar com o Lula.