Para o cientista político e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Wagner Romão, a força-tarefa da Operação Lava Jato de Curitiba voltou a agir politicamente contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A acusação apresentada pelo Ministério Público Federal (MPF) do Paraná é de que o Instituto Lula teria sido usado para o recebimento ilegal de dinheiro por meio de doações da construtora Odebrecht.
Romão relacionou essa denúncia às seguidas vitórias obtidas por Lula na Justiça. Mas também é uma reação, segundo ele, ao pronunciamento do ex-presidente realizado no Dia da Independência.
“É uma matéria que vem requentada por esses novos acontecimentos”, afirmou Romão em entrevista a Glauco Faria, no Jornal Brasil Atual nesta terça-feira (15). Ele destacou que é a primeira ação da Lava Jato contra Lula após a saída do procurador Deltan Dallagnol do comando da operação.
Ele lembrou, por exemplo, que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também recebeu doações de empreiteiras para o seu instituto. Sem que fossem levantadas suspeitas de corrupção. O “descrédito” da nova de denúncia também pode ser medido, por outro lado, pelo reduzido destaque recebido em parte da imprensa.
O professor destacou, contudo, a falta de ação dos órgãos de controle do sistema de Justiça – como o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) contra os abusos da Lava Jato. Além da demora do julgamento da suspeição do ex-juiz Sergio Moro pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal.
Histórico
Fora dos domínios da Lava Jato de Curitiba, foram cinco decisões que beneficiaram o ex-presidente Lula nos últimos meses. Dentre elas, o trancamento de uma ação em que o ex-presidente era acusado de fazer lobPor para beneficiar os negócios da Odebrecht na África.
Por falta de provas, o STF também mandou afastar uma delação do ex-ministro Antonio Palocci contra o ex-presidente. Além disso, os ministros Ricardo Lewandoski e Gilmar Mendes apontaram a intenção do então juiz Sergio Moro de criar um fato político, ao divulgar o conteúdo dessa delação seis dias antes do primeiro turno das eleições de 2018.
Nesse período, até mesmo o ministro Edson Fachin – relator da Lava Jato no Supremo – chegou a afirmar que a candidatura presidencial de Lula nas eleições de 2018 “teria feito bem à democracia“.
Em resumo, “tudo o que aconteceu nesse período vai mostrando que há um descrédito desse tipo de tratamento da política pelo Judiciário”, disse Romão.