A articulação pelo fim do conteúdo nacional no setor de óleo e gás, que segundo associações empresariais brasileiras pode eliminar 1 milhão de empregos num país que já tem 13 milhões de desempregados, foi liderada pelo IBP – Instituto Brasileiro do Petróleo; sediada no Rio de Janeiro, a entidade tem entre seus associados multinacionais como Shell e Chevron e argumenta que o fim do conteúdo nacional pode destravar investimentos no setor de óleo e gás; com a chegada de Michel Temer ao poder, não só o pré-sal foi entregue a companhias internacionais, como as plataformas poderão ser construídas fora do Brasil, matando a política industrial para o setor; empresários brasileiros agora se dizem traídos por Temer.
Quando Edward Snowden revelou a espionagem executada pela NSA, agência americana de segurança, soube-se que o Brasil era um dos países mais espionados pelos Estados Unidos e que o foco do interesse era o pré-sal.
Antes disso, documentos do Wikileaks indicaram que o senador José Serra (PSDB-MG), ex-chanceler de Michel Temer, havia prometido à multinacional americana Chevron a abertura do pré-sal.
No ano passado, quando se concretizou o golpe contra a democracia brasileira, a presidente eleita Dilma Rousseff garantiu que o pré-sal seria a primeira vítima do novo regime.
Não deu outra. Temer fez de Serra seu chanceler e o governo aprovou a abertura do pré-sal. Se isso não bastasse, o presidente da Petrobras, Pedro Parente, cedeu a empresas estrangeiras, como Total e Statoil, blocos inteiros da companhia.
Na semana passada, no entanto, veio a grande surpresa. Temer praticamente eliminou, por decreto, as exigências de conteúdo nacional no setor. Ou seja: agora, plataformas inteiras, assim como tubos e equipamentos de perfuração poderão vir da China, de Cingapura e outros países.
Sentindo-se traída por Temer, a indústria brasileira anunciou que cerca de 1 milhão de brasileiros deverão perder seus empregos, num Brasil pós-golpe que já tem 13 milhões de desempregados – saiba mais na entrevista de Cesar Prata, que comanda a área de óleo e gás da Abimaq e apontou uma relação incestuosa entre o governo Temer e as multinacionais do petróleo.
Por trás do lobPor pelo fim do conteúdo nacional, está uma entidade, o Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP), que reúne as grandes multinacionais do setor. Em Brasília, o IBP contratou os serviços da Arko Advice, do cientista político Murilo Aragão, que disse ao 247 ter feito um trabalho de inteligência e monitoramento legislativo para o IBP.
O fato é que a mudança veio imposta de cima para baixo – e nem passou pelo Congresso. Ao mesmo tempo em que o ministro licenciado da Casa Civil, Eliseu Padilha, negociava com empresários brasileiros a questão do conteúdo nacional – havia uma reunião marcada para quarta-feira de cinzas – o ministro Fernando Bezerra, de Minas e Energia, já anunciava para as multinacionais o fim do conteúdo nacional.
O resultado hoje é uma inusitada aliança entre trabalhadores e empresários. Tanto a Federação Única dos Petroleiros como as entidades empresariais, que se reuniram numa entidade chamada Produz Brasil, avaliam que o projeto entreguista de Temer não só entregou o pré-sal, como toda a cadeia produtiva do setor. “Perdemos uma batalha, mas não a guerra”, diz Cesar Prata, do Produz Brasil. “Há estudos que mostram que com mais investimentos, outros empregos serão criados”, pontua Murilo Aragão, que foi contratado pelo IBP.
O IBP justificou sua posição. Confira abaixo:
O Instituto Brasileiro do Petróleo, Gás e Biocombustíveis, IBP, avalia que as novas regras de conteúdo local anunciadas hoje representam uma importante simplificação e adequação das regras à capacidade de fornecimento da indústria nacional e vão colaborar para destravar investimentos, gerar empregos e estimular maior competição na 14ª rodada de licitações de blocos.
Para o IBP, a definição de índices globais por segmentos representa um avanço frente ao modelo atual, e acreditamos que traz uma sinalização de que se persegue o caminho de maior atratividade para os projetos futuros, cenário que favorece novos investimentos na indústria de óleo e gás no Brasil.
O IBP entende que o diálogo do setor de óleo e gás com as autoridades governamentais e a indústria nacional amadureceu e avançou durante as discussões sobre conteúdo local na direção de regras que estimulam o investimento e a geração de empregos no Brasil.