De um lado, pais, alunos e professores de colégios federais no Rio, com faixas e cartazes.
Do outro lado da calçada, tropas do Polícia do Exército com metralhadoras.
No meio, ficou o presidente Jair Bolsonaro cercado de generais, incluindo o vice Mourão.
Esta cena bélica, em frente ao Colégio Militar do Rio, que comemora 130 anos, poderá se tornar corriqueira depois que o governo decidiu abrir guerra contra as universidades e instituto federais, com o corte de 30% das verbas para este ano.
Os protestos contra Bolsonaro, ao entrar no seu quinto mês de governo, estão saindo das redes sociais para as ruas e, quando isso começa, ninguém sabe como vai acabar.
Não por coincidência, o último presidente da República a participar de uma cerimonia no Colégio Militar foi o general João Figueiredo, já nos estertores da ditadura militar.
De Figueiredo da Bolsonaro, o país viveu mais de 30 anos em paz, com presidentes civis se revezando no governo e os militares nos quartéis.
Com a vitória do capitão reformado pelo Exército aos 33 anos, os militares voltaram ao poder central, espalhando-se pelo Palácio do Planalto e a Esplanada dos Ministérios.
O protesto contra Bolsonaro no Rio abriu uma semana que promete novas e fortes emoções.
A crise política permanente agora se tornou também militar, com o confronto aberto entre o presidente, seus filhos e olavetes contra o general Santos Cruz, secretário geral da Presidência e chefe da Secom.
Santo Cruz defende algum tipo de regulação da terra de ninguém das redes sociais, em que é violentamente atacado há varias semanas pelo auto-proclamado guru Olavo de Carvalho e seus fanáticos seguidores.
Bolsonaro agora virou defensor da imprensa livre em todas as plataformas e chamou Santos Cruz para uma conversa no domingo à noite no Palácio da Alvorada.
Foi uma conversa dura entre capitão e general em que nenhum dos dois recuou das suas posições, segundo o portal de O Globo.
A relação de Bolsonaro com os generais que o cercam já não é a mesma do início do governo.
Não só os militares da reserva, mas também os da ativa, estão preocupados com os reflexos que os desatinos de Bolsonaro podem ter sobre a imagem das Forças Armadas.
Pode-se imaginar o que poderia acontecer nas ruas da Tijuca, onde fica o Colégio Militar, se houvesse algum confronto da Polícia do Exército com os manifestantes.
Há quanto tempo não víamos soldados da PE preparados para a guerra em manifestações estudantis para proteger o presidente da República?
Algo se move nos subterrâneos da insatisfação de grande parte da população com o governo, como mostraram todas as últimas pesquisas.
Pensando bem, até que a reação das ruas estava demorando diante dos sucessivos ataques do atual governo aos pilares da democracia.