Recebida com grande animação nas redes sociais, a ideia de abrir um processo de impeachment contra Jair Bolsonaro não pode ser vista como brincadeira de carnaval.
Sabemos que o artigo 5o. da Lei 1079, que define regras para o afastamento de um presidente da República, prevê impeachment para um caso bem específico: “proceder de modo incompatível com a dignidade, a honra e o decoro do cargo.”
Não há dúvida de que, ao divulgar um vídeo obsceno em seu twitter, cujos detalhes não serão mencionados neste espaço, Bolsonaro pode ser incurso nos três casos citados: procedeu de modo incompatível com a dignidade devida ao cargo; ofendeu a honra dos brasileiros; faltou com um padrão mínimo de decoronecessário a quem ocupa o principal cargo da República. Claro como água.
Pode-se até perguntar pela autenticidade das imagens vídeo mas isso é outra história, por enquanto. O vídeo até pode retratar uma situação real ou uma representação. Não importa.
O twitter presidencial é legítima fake news. Está lá, como o nome do presidente. Este é o ponto.
A gravidade, aqui, vai além de qualquer debate moral. Envolve uma questão política, denuncia um propósito.
Confirma que, movendo-se num universo sem escrúpulos de qualquer natureza, Bolsonaro decidiu empregar a obscenidade como método de ação política.
Através do video, ele tenta mobilizar a população contra os blocos de carnaval, essa forma genuína de diversão que é tradição da cultura brasileira — na qual, compreensivelmente, ele próprio tornou-se o alvo principal de ironia e de raiva em 2019.
Bolsonaro escreveu: “temos que expor a verdade para a população ter conhecimento e sempre tomar suas prioridades. É isto que tem virado muitos blocos de rua no carnaval brasileiro. Comentem e tirem suas conclusões”.
É absurdo imaginar que “muitos blocos de rua” teriam virado “isto” que o presidente mostrou.
Toda pessoa que acompanhou a grande festa popular brasileira sabe que a realidade é outra.
No país inteiro, tivemos momentos de saudável diversão, irreverência irresistível e muita criatividade, com raras ocorrências desagradáveis — em grande parte produzidas pela violência policial que Bolsonaro estimula com a divulgação deste vídeo escabroso, ofendendo a “honra”, a “dignidade” e o “decoro” exigidos pelo cargo.
Este é o horizonte do porno-presidente. Falsificar, enganar, distorcer — para pressionar e ameaçar nossa liberdade.