Há mais de 140 anos o Brasil vive em absoluta paz com seus vizinhos do continente sul-americano. Pacifista por tradição e fiel a uma das regras de ouro da diplomacia, que é o princípio da não ingerência nos assuntos dos outros países, a política externa brasileira granjeou respeito e admiração no mundo inteiro.
Nem mesmo a ditadura militar abalou os alicerces dessa política. Tanto que o Brasil, durante a presidência do general Geisel e a chefia do Itamaraty a cargo do embaixador Saraiva Guerreiro, foi o primeiro país a reconhecer a independência das colônias portuguesas na África. Até a organização guerrilheira Swapo (Organização do Povo do Sudoeste Africano), que lutava pela independência da Namíbia, recebeu do Brasil o reconhecimento de “legítima representante dos interesses do povo da Namíbia.”
Dispensa maiores comentários a política ativa e altiva de Lula-Amorim, ponto alto do prestígio internacional do país. Não à toa o Brasil participou a convite da ONU de várias missões de paz, inclusive chefiando-as.
Contudo, todo esse enorme patrimônio diplomático e de imagem positiva do país começou a ruir com a eleição de Bolsonaro e a indicação de um retardado mental para ministro das relações exteriores. Logo ficaria claro que o multilateralismo e o respeito à soberania de todas as nações seriam abandonados em nome de uma subserviência total e irrestrita à visão imperialista e belicista de um lunático grosseiro como Trump.
É o presidente dos EUA, de olho nas maiores reservas de petróleo do mundo, que se encontram na Venezuela, que empurra Bolsonaro para uma aventura de consequências catastróficas para o Brasil. Permitindo-se ser usado como cavalo de Tróia para uma agressão militar estadunidense na Venezuela, sob o pretexto de ajuda humanitária, Bolsonaro, portador de sérios problemas cognitivos, talvez não tenha a dimensão do preço a ser pago por quem atacar o território venezuelano.
Além de contar com uma das forças armadas mais bem equipadas e numerosas do continente, a Venezuela dispõe ainda de cerca de 1 milhão de combatentes das chamadas milícias revolucionárias bolivarianas, organizadas e treinadas a partir de fábricas, escolas e bairros, além da guarda nacional.
Caso esteja apostando suas fichas em se escudar no exército norte-americano, é bom que o presidente brasileiro saiba que potências militares como a Rússia e a China, além do Irã, não hesitarão em se somar à Venezuela num eventual conflito armado. O que está em jogo são as vidas de brasileiros inocentes que serão usados como bucha de canhão por um governo irresponsável e vergonhosamente submetido aos interesses geopolíticos e comerciais do império norte-americano. Neste momento de extrema gravidade, cabe à esquerda brasileira defender a paz e denunciar a guerra por petróleo dos EUA contra a Venezuela.