Pouco mais de um ano após o surgimento das primeiras denúncias, o famoso médium de Abadiânia João Teixeira de Faria, o João de Deus, foi condenado a 19 anos de prisão, nesta quinta-feira (19), no Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO).
O Ministério Público de Goiás (MP-GO) esperava ainda para este ano a sentença contra duas das 11 denúncias que apresentou à Justiça de Goiás contra João de Deus por abuso sexual de vulneráveis.
As duas denúncias envolvem 144 mulheres, inclusive uma menina de 12 anos e outra de 14, na época do suposto abuso. Os casos relativos a 57 dessas mulheres ainda não prescreveram, portanto, as demais vítimas são incluídas nos processos como testemunhas.
Embora o MP-GO tenha recebido 319 relatos de abuso sexual de vulneráveis, um total de 194 depoimentos foram formalizados, ou seja, as mulheres levaram o processo de denúncia até o fim, inclusive participando das oitivas. Desse total, 118 não prescreveram.Continua depois da publicidade
Além das 11 denúncias por abuso sexual de vulneráveis, outras duas por posse ilegal de armas de fogo foram apresentadas pelo MP-GO. Para uma delas, já houve sentença proferida há cerca de um mês. João de Deus foi condenado a quatro anos de prisão em regime aberto.
O MP-GO também abriu uma ação civil pública para que ele seja condenado a indenizar todas as mulheres que não foram incluídas nos processos, quando as sentenças forem proferidas. Ariane destaca, porém, que elas terão de prestar depoimento, apresentar testemunhas e passar por todo o processo das demais mulheres, o que pode levar muito tempo.
Rede de proteção
João de Deus também é investigado pela Polícia Civil de Goiás por fraude, lavagem de dinheiro e por suposta rede de proteção ao médium, que inclui autoridades, como delegados e policiais, que teriam ajudado o religioso a se livrar das apurações. Além disso, várias outras pessoas são suspeitas de coautoria. As investigações correm sob sigilo.
O MP-GO divulgou um balanço das denúncias que pesam contra o médium, colhidas desde dezembro do ano passado. Segundo o órgão, Brasília e São Paulo concentram o maior número de denúncias: 59 cada, seguidos de Goiânia, com 37, mas há denúncias de outros 16 estados.
Os casos denunciados envolvem de crianças a mulheres com mais de 60 anos, sendo que o maior grupo é de mulheres entre 18 e 30 anos. Os casos teriam ocorrido entre 1978 e 2018, e os abusos relatados variam de toque sem consentimento a ejaculação, masturbação, tentativa de sexo oral, tentativa de penetração, sexo oral e penetração sem consentimento.
O médium está preso desde dezembro do ano passado. Desde então, a Justiça negou vários habeas corpus para a soltura de João de Deus. A última negativa foi do STJ, em 2 de dezembro, do ministro Nefi Cordeiro. A defesa alegou decisão monocrática e disse que vai recorrer para que a avaliação seja feita pelo colegiado.