“Quando um governo não respeita a pública opinião, quando se não importa que seus atos sejam censurados, quando mesmo não tendo consciência política tudo despreza, tudo trata de resto e só lança o sorriso de escárnio sobre o código sagrado e fundamental do estado e como desprezando-o o atira por terra, pisa-o e o conspurca, o que se deve esperar de tal governo? De que crimes não se tem ele revestido? Um governo semelhante é indigno de dirigir uma nação esclarecida, é incapaz de reger homens livres, deve chamar sobre si todas as maldições do povo, a espada da justiça deve estar pendente sobre a sua cabeça, para que não insulte a lei e enxovalhe o povo que o sustenta e tolera”.
Esse texto, que parece prever, ipsis literis, os sentimentos dos brasileiros em relação ao atual governo Temer e a forma como ele reage, com “sorriso de escárnio”, foi publicado a 14 de março de 1840 na página 7 do jornal “A Ortiga”, do Rio de Janeiro e critica a última regência que governou o Brasil antes da maioridade de Dom Pedro II, que viria quatro meses depois.
É assustador! Se um artigo de 177 anos atrás que põe o dedo na ferida de um governo eivado de imoralidades e rejeitado pelo povo serve para ilustrar perfeitamente o governo atual podemos concluir que a política em nosso país é a mesma do tempo do império, que os brasileiros estão muito mais acomodados hoje do que no tempo do império e que governos praticam crimes contra o povo seja qual for o regime ou sistema de governo: monarquia ou república, ditadura ou democracia.
Se não nos dermos conta da complexidade do problema jamais o solucionaremos.
Não é uma operação policialesco-judiciária que vai acabar com isso.
O que estamos vendo é o contrário: um governo corrupto e unido acaba com a operação policialesco-judiciária antes de ser destruído por ela.