Deflagrada há quatro meses, a Operação Ouvidos Moucos, da Polícia Federal, não chegou a lugar algum e os policiais pediram mais 90 dias para concluir o inquérito. O caso se tornou notório porque motivou o suicídio do reitor Luiz Cancellier, preso injustamente e afastado da Universidade Federal de Santa Catarina, sem que tenha cometido qualquer irregularidade.
Mártir dos tempos atuais, marcados pelo arbítrio e pelo fim de garantias constitucionais, Cancellier poderá dar nome à lei contra abusos de autoridade.
Após quatro meses da deflagração da Operação Ouvidos Moucosna Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), completados hoje, o inquérito da Polícia Federal que apura supostos desvios de recursos em dois cursos da Educação a Distância do programa Universidade Aberta do Brasil está longe de um desfecho. Após 120 dias, ninguém foi indiciado, e agora mais 90 dias foram pedidos pela Polícia Federal para continuar a investigação.
O caso ganhou maior notoriedade após o suicídio do reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo. Preso na ação e impedido de retornar à universidade, ele, alegando inocência, se jogou do sétimo andar de um shopping em Florianópolis, 18 dias após ser levado pela PF. Outros seis professores, também detidos sob acusação de envolvimento no esquema, seguem proibidos pela Justiça de voltar às suas funções na instituição.
Quando se jogou do 7º andar de um shopping, o reitor Luiz Carlos Cancellier carregava no bolso um bilhete: “A minha morte foi decretada quando fui banido da universidade!!!” Outros personagens da trama que se passa dentro do campus da UFSC também tiveram seus destinos modificados após a Operação Ouvidos Moucos. Os seis professores presos no dia 14 de setembro continuam proibidos de ingressar na universidade. Reclusos, têm evitado circular pela cidade, encontrar colegas e alunos. A maioria, segundo suas defesas, faz tratamentos psiquiátricos e psicológicos. Eles evitam os telefonemas e se recusam a dar entrevistas.
Apontado como desafeto do reitor Cancellier, o corregedor da UFSC, Rodolfo Hickel do Prado, responsável pela denúncia dos supostos desvios, também não frequenta mais a universidade. Em novembro, ele foi afastado por 60 dias por licença médica. Ele deveria ter voltado no dia 5 de janeiro, mas pediu férias e adiou o retorno para o início de fevereiro.
Hickel ainda pode enfrentar um processo na área cível. Familiares do reitor morto estudam responsabilizar judicialmente o corregedor e até mesmo a própria delegada. “Há uma falta total de esclarecimentos. A morte do meu irmão aconteceu após a execração pública feita em consonância com a Polícia Federal”, diz Acioli Cancellier.