A Revista Crusoé fez um levantamento exclusivo sobre as investigações da Polícia Federal sobre a devassa que o deputado federal Josimar Maranhãozinho fez com emendas parlamentares.
Segundo a revista, trata-se de um verdadeiro e extenso esquema criminoso, que desviava recursos que deveriam atender os maranhenses menos favorecidos, em especial da saúde, no período da pandemia da Covid-19.
Alinhado a Valdemar Costa Neto, presidente nacional do Partido Liberal, que no estado do Maranhão é comandado por Maranhãozinho e bem entrosado com o agora colega de partido presidente Jair Bolsonaro, o parlamentar foi alvo da PF por duas vezes em menos de um ano.
No bojo das investigações, buscas e apreensões em endereços ligados ao deputado do PL, onde ocorriam reuniões para as tratativas e acertos sobre a operação para desviar o dinheiro público com ajuda de aliados, entre ele, prefeitos, deputados e testa de ferro. A PF conseguiu com autorização da Justiça monitorar os passos dos parlamentares de seus astecas que sacavam dinheiro em espécie e entregavam direto para Maranhãozinho.
Câmeras escondidas, conseguiram flagrar o mandatário do PL, manipulando vultosos maços de dinheiro, que segundo a PF são frutos de desvios das emendas. Além de imagens, áudios de conversas entre ele e aliados revelam o esquema criminoso. Em 2020, Josimar teve o montante de R$ 15 milhões em emendas liberadas pelo Governo Federal, que foram destinados para os municípios de prefeitos aliados. O esquema ocorria da seguinte forma, segundo reportagem da Crusoé; o deputado enviava os recursos (emendas parlamentares) para as prefeituras que celebravam contratos com empresas ligadas ao próprio deputado, que por meio de parceiros retirava o dinheiro em espécie, sendo o destino final o escritório de Maranhãozinho.
O chefe do PL no Maranhão, ingressou na política como prefeito da cidade de Maranhãozinho, à época com bens declarados de pouco mais de R$ 463 mil reais, já em 2018 a fortuna declarada chegou a R$ 14 milhões. Atualmente Josimar tem a esposa Detinha deputada estadual, a irmã Josenilda Cunha prefeita de Zé Doca e até seu ex-motorista lhe sucedeu em Maranhãozinho como prefeito da cidade. O deputado tem conchavos ainda com outros deputados estaduais e federais que são controlados pelo liberal, exercendo grande influência. De acordo com a Polícia Federal, apenas duas das empresas ligadas ao deputado que receberam dinheiro proveniente das emendas enviadas por ele, a Medhosp e a Atos Engenharia, fizeram saques que somam nada menos que 5,5 milhões de reais – mais de um terço do valor total das emendas. O mecanismo é tão grotesco que, em muitos casos, é o próprio Josimar de Maranhãozinho quem dá as cartas no dia a dia das prefeituras. Para além de instalarem câmera e microfones no escritório político do deputado, os policiais também tiveram aval do Supremo para fazer uma “busca exploratória” na sala, à procura de outras provas do esquema — entraram no lugar sem que fossem descobertos. Deu certo. Encontraram, por exemplo, planilhas com o registro das entradas e saídas de dinheiro e, pasme, até extratos bancários completos das contas de algumas das prefeituras. Sim, para poder cobrar a “devolução” da parte que lhe cabia das emendas, o deputado acompanhava pessoalmente o fluxo de caixa dos municípios e sabia exatamente quando as verbas federais entravam na conta dos municípios. Uma das prefeituras cujo extrato da conta foi encontrado durante a incursão no escritório é justamente a de Maranhãozinho, administrada pelo ex-motorista do deputado. No monitoramento que os policiais federais fizeram das reuniões realizadas por Josimar de Maranhãozinho no escritório, surgiram fortes evidências de que ele usava o dinheiro do esquema para bancar campanhas de aliados em diversas regiões do Maranhão, desde a capital até o interior profundo. As gravações foram feitas em outubro do ano passado, semanas antes das eleições municipais, adiadas por causa da pandemia. O deputado trata de estratégias de campanha e, especialmente, da distribuição de dinheiro para tentar garantir a vitória de seus parceiros. Em uma reunião com a equipe de Duarte Júnior, o candidato a prefeito da capital que tinha sua sobrinha como vice, o parlamentar responde o seguinte ao ser indagado sobre o pagamento de despesas com o marketing da campanha: “Agora eu tenho duzentos. Aí eu posso viabilizar para ver se consigo sacar (…) Não dá para usar nota aí, então. Tem que pagar por fora mesmo”. Os participantes da reunião tratam, logo depois, do local onde deveria ser feita a entrega do restante do dinheiro. A certa altura, Maranhãozinho diz que poderia disponibilizar carro e motorista para levar os recursos. “Terça-feira disponibilizo o mesmo motorista e o mesmo carro”, afirma. Em outra reunião, desta vez com um homem não identificado, o deputado entrega uma caixa e promete: “Tem duzentos e cinquenta aí, as menina (sic) vão juntar um dinheiro aí e vou dizer pra elas que na hora que tiver pronto, até sexta-feira, a gente consegue juntar os outros 150 pra ti vim (sic) buscar”. As meninas a que ele se refere são as secretárias do escritório, que administravam as entradas e saídas de recursos. A sala comercial não era o único lugar onde o deputado guardava dinheiro. Em outra conversa registrada pelos policiais, o próprio Maranhãozinho diz ter deixado 1 milhão de reais com um aliado: “Liga pro Hélio aí pra trazer aquele recurso que nós mandamos pra casa dele. Tem um conto lá”. Os registros mostram uma romaria de gente ligada à eleição indo ao escritório para buscar dinheiro para bancar campanhas no estado. Maranhãozinho fazia questão de acompanhar as chances de cada um –a “busca exploratória” feita pelos agentes localizou relatórios de pesquisas de opinião por meio das quais ele monitorava as chances de cada um dos aliados. A cena em que o deputado aparece com os rechonchudos maços de dinheiro nas mãos foi captada pelos policiais no início da noite de 27 de outubro de 2020.
Àquela altura, ele recebia no escritório a visita de um homem identificado apenas como “Serginho”. No vídeo, o visitante pergunta a Maranhãozinho: “Como é que tá conseguindo sacardinheiro, Josimar?”. “Saquei no ano passado, Serginho. Dinheiro espalhado em tudo que é canto”, responde o deputado. Naquela mesma noite, o parlamentar diz a um interlocutor que já havia “comprometido” 20 milhões de reais durante aquela campanha eleitoral. Ele ainda aparece distribuindo dinheiro em 13 envelopes que, segundo a PF, seriam entregues a candidatos a prefeito, com o compromisso de ser ressarcido depois. Enquanto executava a tarefa, Maranhãozinho diz esperar abolada de volta durante as eleições do ano que vem, quando pretende se candidatar ao governo estadual: “Aqui é um pagando o outro. Aqui eu quero pelo menos livrar o dinheiro. Já volta para a minha campanha em 2022”.No Supremo, Josimar de Maranhãozinho é investigado por pelo menos quatro crimes: peculato, lavagem de dinheiro, organização criminosa e fraude a licitação. A apuração sobre o caminho dos 15 milhões de emendas destinadas no ano passado pelo parlamentar à área da saúde é apenas uma amostra do que pode ser, de fato, o esquema: estima-se que, nos últimos anos, somando as suas próprias emendas com as de outros parlamentares que toparam participar, Maranhãozinho operou para despejar, no mínimo, outros 100 milhões de reais em sua máquina de fazer dinheiro vivo. O papelório apreendido no escritório do deputado indica que o “lucro” das operações costumava ser repartido com parceiros, inclusive de fora do Maranhão: há registros de que ele autorizou entregas de dinheiro vivo em Brasília e em São Paulo, por exemplo. Uma das planilhas registra que na capital paulista, de uma só tacada, foi feito um “delivery” de 1,5 milhão de reais. Procurado por Crusoé, o gabinete de Josimar Maranhãozinho criticou a investigação da Polícia Federal. Sobre o dinheiro, a assessoria disse que os valores em espécie guardados no escritório constavam da declaração de imposto de renda do deputado – uma tática manjada, como se sabe. Espera-se que, mais de um ano depois da obtenção de provas tão eloquentes quanto as imagens da dinheirama, a investigação tocada pela PF sob o crivo do Supremo finalmente saia do secretismo e alcance resultados práticos, para além das buscas. E que o próprio Congresso Nacional dê uma resposta. Nos dias atuais está bem difícil, mas é preciso impor limites ao escracho.
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